sábado, 18 de julho de 2009

Barcelona, 29 de abril

Um lindo dia de sol me abraça nesta cidade que há anos não vejo; tenho esperanças róseas de belos dias floridos, do burburinho de gente na Plaça Catalunya, de trocar palavras nessa língua única que vem me comovendo há tempos nas letras de Lluís Llach. Meu taxista é gentil, simpático e correto; em dois tempos encosta junto ao Hotel Lloret, herança de Elaine Jones via Àngels, ultra bem localizado, além de funcional e econômico para os padrões de Barcelona. O sol e o cheiro das ruas brincam comigo: estou em festa! Hoje verei Àngels Salvador, meu anjo catalão oficial! Já sinto Gaudí na pele como uma coceira, um vício, uma primeira necessidade.

Na recepção conheço Victor, um catalão que fala português. E Marta, com quem tinha trocado impressões e amabilidades por email, me dá de presente um lindo vocabulário ilustrado da língua catalã, com desenhos familiares à la Capdevilla. A Prefeitura sabe receber quem gosta do idioma da terra!

Ganho um quarto no segundo andar, o 220, que capta o sinal da internet sem fio. A rigor, seria só no salão, mas... que sorte a minha, chega aos meus aposentos! Resolvo dar um giro pela cidade, buscar um chip pro meu celular, fazer um lanche. Dou de cara com a Fnac, por orientação do Victor, mas vou subindo e reencontro velhas ruas, como a fabulosa e interminável Gran Via dels Corts Catalanes, o Passeig de Gracia, todas no mesmo lugar em que estavam naquele 1982 quentíssimo em que eu, desavisada, resolvi europear no verão, logo depois de me formar.

O sanduíche, que aqui atende pelo nome de bocadillo, foi pedido com rigor llachiano: chamava-se Laura e estava muito bom. O refrigerante em questão era de pomelo, bom também. Voltei sobre meus passos para o aprazível Lloret e já encontrei recado de Àngels, quase aflita: já era tarde e não conseguia falar comigo! Pudera. O chip adquirido, por inépcia do vendedor da Vodafone, não era compatível com meu aparelho português! O jeito foi comprar um novo aparelho no dia seguinte, catalão legítimo, com outro chip. Me esbaldei em créditos nos dias seguintes!

O encontro solene foi marcado à porta do Gran Teatre del Liceu, o templo de Carreras, que também estava a dois passos de mim! Desci as Ramblas com o coração na boca. Ao longe avistei Àngels, exatamente como aparecia nas fotos e muito, muito concentrada. Cheguei pelo lado e ela só me viu quando estava a dois passos! Senti-me abraçada por todos os llachianos, na pele dessa mulher forte, lutadora, verdadeira. Dali seguimos por tortuosos caminhos até o Caelum, uma espécie de cave onde haveria uma surpresa que, embora não anunciada, consegui adivinhar: Xavier, namorado de Àngels e grande fã de Vinícius de Moraes.

Mal tomamos uma cava - a bebida mais fantástica do mundo, da qual falarei muito ainda - e já nos expulsavam com alguma gentileza: o Caelum fechava às seis da tarde!

Dali seguimos para um jantar incrível no Quattre Gats, restaurante modernista e símbolo da cidade. Comida fantástica, vinhos delirantes, sobremesa, pianista que, de Llach, só sabia tocar L'Estaca... Mas a noite não acabara; o tour previa ainda uma uisquería típica! Dessa vez dei tempo no álcool porque não podia começar minha saga barcelonesa na emergência de algum hospital, tomando glicose: parti para o coquetel de frutas e Xavier - que ainda teria de dirigir uns 100 quilômetros até Tarragona - me acompanhou, a conselho da sempre atenta Àngels.

No Lloret, entreguei as camisetas de Salvador que tinha trazido para eles e nos despedimos com enormes abraços. O dia seguinte também guardava promessas e a madrugada já ia adiantada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário